Instantes Perdidos

Instantes que se perdem na vida rodopiante e alucinada... Instantes escritos em poesia na busca da perfeição.

sexta-feira, dezembro 31, 2004

Bem o ano de 2004 está no fim...

Estas palavras são para todos os meus amigos...

Adoro-vos por me darem força quando preciso, por me darem na cabeça quando mereço, por tudo por nada, mas simplesmente por serem meus amigos.

Aproveito agora que o blogue faz 6 meses de existencia para agradecer a todos a vossa leitura e os vossos comentários.
Obrigado e bem hajam.


Instantes Perdidos em palavras
Instantes bandidos tais labirintos,
Palavras de vento escritas são raras
O que importa é o momento,
Cada vez momentos mais extintos,
Pois palavras são sempre palavras...

Assin: Artur Rebelo

A todos os que adoro ler...

BOM ANO DE 2005

Suicídio de amor...



Segrego acidez no meu ego,
Este destino que lento se fia.
Largo o tal amor que nego,
Eu que por ti sempre perdia.

Estava absolutamente cego,
Perdi-me em demasiada dor,
Em nada mais profundo pego,
Nunca mais sentirei um amor.

Amava tanto agora me encerro,
Fiquei cego de alma sem valor,
E ti negra morte me entrego,
Sem qualquer tipo de terror.

Sem medo do escuro me delego,
Corto as veias e perco o calor,
E por fim de sangue me rego
Até não mais sentir dor...

Assin: Artur Rebelo
Foto de: Spiked Heart Gate © Annette Fournet/CORBIS

Ai o gosto de beijar o teu rosto...



Primeiro há o olhar,
Depois descobre-se o corpo,
Presta-se a alma em todo o lugar
Como se fosse um reencontro,
Em cada canto mil gestos de amar
Guardados na tua pele, eu gosto...
E o teu rosto lindo de luar,
Reconhece-me e faz de mim encosto.


Ai que gosto, ai que gosto,
Que é beijar o teu rosto...


Abre-me todas as portas,
Mostra-me intocáveis grandezas,
Mostra-me a vagina que exortas,
Teu rosto mais que princesas,
Me reconforta de riquezas...

Todos os cantos do teu lugar,
Nos estendais desta paixão
Na selva cerrada do teu caviar,
Caí desamparado no teu chão.
Acendi de prazer ao gritar...


Ai que gosto, Ai que gosto,
Que é beijar o teu rosto...


Rosto de menina, corpo de mulher,
Com olhos vendados a promessa,
Nocturno suor de puro prazer,
Cara tão fina, corpo de boneca,
Por ti minha imagem do querer...

Todos os cantos do teu lugar,
Te cobri como um verme
Te senti como a areia sente o mar,
Me inoculei da tua derme,
Meus olhos falam ao brilhar...


Ai que gosto, Ai que gosto...
Que é beijar o teu rosto.


Gosto de ti tão indefesa,
De ultrapassar todas as barreiras,
Teu rosto doce e de surpresa,
Terra sem perdidas fronteiras
Teu rosto sabor de Framboesa.

Gosto de ti pois dás luta,
Fico vitorioso e pacificado,
Quando vences a disputa,
Pois o meu corpo saciado,
Saciado do teu rosto, muda.


Ai que gosto, Ai que gosto...
Que é beijar o teu rosto.
Mais que o prazer do sexo,
Mais que sentir teu corpo,
Mesmo que seja sem nexo.

Ai que gosto, Ai que gosto...
Que é beijar o teu rosto.
Para isso, a tudo estou disposto...


Assin: Artur Rebelo
Foto retirada da capa da revista pública - Jornal Público de 02-05-2004

Feridas



Feridas que não saram...
Outras que se abrem,
Sangue e alma me levaram.
Crostas que se reedificam,
Choro de saudade e dor,
Cicatrizes que ficam,
Suicídio de Horror...

Carne dilacerada, feridas certas.
Sangue pelo chão, feridas bertas.
Ateada desilusão, onde mergulho.
Esmagado coração que arde,
Ofendida a carne, não o orgulho.

Feridas de não te ter…
Mas estou feliz, algo me diz...
Faltam poucas horas para te ver.

Assin: Artur Rebelo (2004-12-30)
Incluído na colectânea "Dores")

terça-feira, dezembro 28, 2004

Dúvida sobre ti deusa...




Passeio por intrigas num divã,
Desejos mais gastos que o sexo,
Penso em ti como a uma irmã,
O que penso não tem nexo,
Pois tens sabor de alma salgada,
Ponto e virgula, não falo de sexo.
Estanco o bater da forma iluminada,
Teu corpo tão calmo e convexo,
Curvas numa perfeição enredada...

Não sei se és amada, como irmã ou fada.

A dúvida assola o meu íntimo discreto...
Engolirei os gemidos, sentirei o luar
Ao coração sem caminho o converto
Engasguei-me de arrepios deste ar,
Tristeza física pela tristeza do incerto
Dor uma luz que espelha as ondas do mar
Perco a sanidade perante sonhos castos,
Penso em ti nesses sonhos. Será o amar?
As palavras são caminhos gastos.

És mulher, fraterna ou protectora?
És Afrodite, Deméter ou Atenas?
És amada, fraterna ou fada redentora?
Nada me permite saber...
É uma dúvida apenas...

Assin: Artur Rebelo
Imagem de quadro de autor que eu desconheço

Estrada...

Estrada


A cada segundo da vida,
Há coisas boas e até coisas más,
Nesta estrada que percorremos a pé,
Num minuto se perde o que a vida faz.
Num segundo choramos e perdemos a fé.
Quando amamos de verdade já foi,
Quando odiamos ainda é.
Choramos pela estrada que dói...
Deixamos levar a vida ao sabor da maré.

Não aproveitamos a estrada,
Escolhemos atalhos, triste gosto...
Ou então seguimos a estrada errada,
Caem lágrimas pelo nosso rosto...

Mas ninguém nos diz que dói muito viver,
Ninguém mostra a estrada certa,
A estrada da vida, a estrada do saber,
Ninguém desenha a estrada correcta.
Depois perto do fim, ficamos sós
Percorremos o caminho esburacado
No fim da vida temos pena de nós,
Sabemos que o caminho era o errado.

Depois perto do eterno lar,
Sentamo-nos apenas para pedir
Um sitio onde descansar.
Com a vida a acabar, a partir,
Com a vida em elevada idade,
É que descobrimos que a estrada
Foi mal percorrida a vida
Foi sentida em infelicidade,
Depois o pouco amor termina em nada,
Piedade...

Assin: Artur Rebelo
(Incluído na colectânea “Dores”)

sábado, dezembro 25, 2004

E Nasceu...

E nasceu...


Num sonho de Belém,
Nasceu bem um menino,
Lindo, profético que bem,
Travou o pérfido do rabino.

Num sonho de alguém,
Entre pobreza e alegria,
Veio um bebé do bem,
Cantem a todos este dia.

Viva exércitos de anjos
Vêm em grande sinfonia,
Trazem na mão banjos,
Tocam pautas de alegria.

Uma estrela no céu brilha,
Todos a adoram tão bela,
A estrela é guia que cintila,
E um caminho belo revela.

Chegam os Reis Magos,
Guiados pela estrela guia,
Atravessaram rios e lagos
Trazem amor, ouro e mirra.

Chega o Pastor com amor,
Reza com sua ovelha e fé,
Vem adorar e dar o calor,
Ao menino junta-se de pé.

O menino de sua mãe Maria
O menino filho deste Deus,
Promessa de Deus que viria,
O Jesus, o menino dos céus.

Jesus pequenino com frio,
A vaca e o burrinho arfam
Para o lindo Deus menino,
Com o seu frio eles acabam.

Linda a família deste José
O pai em amor sem ser pai,
Linda Maria, mãe de luz até,
A esta família feliz, orai...

Assim começa uma história
Assim o amor vence o mal
Cantem todos, dia de alegria
Chegou a família e o Natal...

Assin: António Moreno

__________ // __________

Aproveito para desejar a todos os meus amigos e familiares um feliz e Santo Natal .

Aproveito para agradeçer a todos os que me comentaram neste blog...

... os meus agradecimentos e bem hajam...

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Pedido...

Pedido

Deixa que o meu amor seja o mais feroz,
Deixa que seja selvagem e te espante,
Deixa o meu amor sincero mas tão atroz,
Que transborde em cor de pastel corante


Deixa o meu amor que transborda imagens,
Transborda em todos os meus poros tesão,
Deixa que me arreie os olhos em viagens,
São forças onde sela as costas deste leão.


Deixa o meu amor abusar, seja alma de festa,
Deixa que o meu amor agredia a sensação,
Me agredia com tanto espanto, uma aresta.


Deixa o meu amor, do sorriso doce padrão,
Deixa que o meu amor seja piegas e pagão,
Deixem o meu amor, é tudo o que me resta...


Assin: António Moreno

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Percorro o corpo até à Vagina...

Example

Talvez um caminho calmo sem parapeitos,
Está longe de precipícios, como o Alentejo
O caminho nada fácil, mas sem desfiladeiros,
Mas és húmida, em desejo que eu bem vejo...

Ribalta do mundo, teus cabelos em seda funda
Falésia não és, talvez sejas umas dores áridas.
Lábios pilares amorosos, abraça-me e abunda
Nascida na margem duma loucura rosada cálida.

Mordo lentamente o teu corpo, és barragem
Caí em ternura em gritos de som, boa musica
Percorro com calor o teu corpo numa viagem...

Hálito que agarra a tua pele, bafo de genica,
Tua pele é algodão, mordo para ter o sabor,
Descobri a fonte, o monte, centro do teu amor.

Assin: António Moreno

Sonho de poesia em corpo de magia.

Example

Não quero,
Sonhar imagens de valsa
E não dançar.

Não espero,
Ouvir essa tua alma
Ou ter prazer em a escutar.

Não desejo,
Abrir o coração
Sem ter o teu olhar,

Não prevejo,
Ter a tua paixão
A ti sentir ou amar.

Não sonho,
Sentir a cor do batom,
Sem teu beijo lembrar.

Não ponho,
O meu ser,
um dom,
Para o amor recordar
Ou nos teus lábios,
Me perder.

Não consigo,
Que sejas a poesia
Sem teu corpo escrever.

Apenas o digo,
um dia
Serás a minha rima
De puro prazer...

Assin: Artur Rebelo

terça-feira, dezembro 21, 2004

Dor infernal, flor morta...

Flor Morta

Dor infernal partiste, ficaram os meus restolhos,
Dias claros aos demais, sem vento e quentes,
Nada esfria os cristais do paraíso, os teus olhos,
Meus olhos salgam os teus fechados, diferentes.

Como a lenta febre deste verão me destrói,
Tuas janelas de olhos que não mais latejam,
Mas não é o tempo que me tolhia, me corrói,
Eram outras as pérfidas febres que fraquejam.

A tua pureza no céu junto de um arco-íris matiz,
Sombras na terra, flor morta mas cheia de beleza,
Um reflexo brilhante do meu choro, sou um infeliz.

Sangro a minha alma, sangro toda esta natureza
Perdeste a vida princesa, perdi o teu olhar, morro
O meu ser sangra por fora e dentro, apenas choro.

Assin: António Moreno

Regatos

Regatos

Num sentido errado descobri o silêncio,
Era algo obtuso em mergulho de sabor,
Silencio é sabor do pensamento imenso,
Diagramas na mente são o meu redentor.

Doces águas, perante jogos e artimanhas,
A natureza do mundo é muralha de actos,
Experimentando o meu corpo em chamas
Reflectindo, pensando... A vida são regatos.

Sumindo em dentro de mim, descobri,
Que não vivo, apenas sonho a sentença
Morro de dor já não sei, penso e sumi...

A carne não dói, sente volúpia, clemência,
Regatos desta vida, pensativa, repartida
Estou cansado, penso a vida quase perdida.

Assin: António Moreno

Superfície rosada...

Rosada


Não sei onde vi tamanha beleza,
Sinceramente não me importa,
Sei que desabrochou em largueza,
Pele sem fim que inunda, és porta,
Porta do paraíso, só vejo pureza,
Da doçura e do prazer, és princesa.
Já sei alguém me recorta, até reconforta,
Pele rosada, perfumada e adorada,
Quem me dera tocar, sentir e beijar,
Essa pele dos sonhos que é idolatrada.
Sinceramente, no mundo de carmim,
por mim e sem fim, te chamo adorada.

Assin: Artur Rebelo

Não vivo, sonho...

Sonho

Acalentei o ócio e desdenhei a tua forma,
Renasci nervosamente numa sesta de tarde,
Mitigadas as horas que voam, é uma norma,
Do sonho ávido acordei, uma vida que arde.

Avesso a retratos do dia, ficou um conto,
Pitada de sal numa vida encoberta e calada,
Desenhada numa pauta esta vida de tonto,
Sonhei ao crescer no lado da física errada.

No desacordado tempo, forma de paixão,
Nos cacos colados dessa poesia sonhada,
Olho no olho, lábio num lábio, sem perdão.

Cópias de palavra ao sentir a vida desenhada
Diversas vozes a discutir o sonhar, são letras
Escrevo o dormir, o sonhar das penas certas.

Assin: António Moreno

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Poesia



Cresci entre escritores e poetas
Escrever é o florir da vocação
Salteio e escrevo com todas as letras,
Prezo o meu lado florido, a sensação.
Atado aos imensos e travados cabos,
Do lado mais profano do coração.
Escrevo os teus olhos, beleza e lábios,
Calvário da natureza, a paixão.
Sobre a noite, sobre todos estes rios,
Tal ossário é fundo do mar alto,
Sobre um Inverno e os seus frios,
Algo dos ventos no monte calmo,
Momento é tudo, é o meu acto,
Sobre a vida algo profundo,
Porém sou destrutivo e te assalto,
Ando perdido bem lá no fundo,
Tal bandida que fura as entranhas
Fura as entranhas deste mundo,
Do mundo e das gentes estranhas,
Sinto os poemas porque me afundo,
Poetizo a verdade sem artimanhas,
Tu és artimanha, és poema, és assalto,
Cada palavra uma inquisição,
Cada poema um propenso acto,
Estrangulados versos numa mão.
Cada poema transmite um lado
O lado da dura ilusão.
Escrevo esta poesia tão torta
Talvez mais intensa e morta,
Como uma planta desta Horta
Que à qual sem fruto se corta...
Poema que pode ser de ofensa,
Com tal verdade imensa.
Cresci entre salteadores e poetas,
Salteadores de poesia densa,
Nesta luta cruel e intensa.
O poeta pode ser um profeta,
Da verdade tão propensa,
Esta poesia nada tem de discreta.
Digo isto apenas...
O poeta...
...sofre a maldição,
...passa todas as penas,
Por um punhado de poemas na mão.


Assin: Artur Rebelo

Ondulante



Nos lábios doces de mel,
Tudo compreendi,
Serei totalmente fiel
Ao perfume que senti
Teus olhos de Outono,
Me lembram que renasci,
És tu certa no meu retorno
Ondulante, cresci por ti
O teu beijo tão quente
Faz renascer o amor feito
Toca no meu peito...
...e sente.
Faz isso por mim...


Assin: Artur Rebelo

Corpo da Rosa...




Bandos de imagens me atravessam a mente,
Quando falo contigo, quando te imagino,
És um corpo lá longe, um corpo que sente,
Rosa o teu nome é o meu destino,
Rosa uma mensageira do momento,
Teu corpo coberto de espinhos,
Teu corpo belo perfeito de sentimento,
Teu corpo traça no meu o caminho,
Rosa és o furacão o verdadeiro tormento
Desperto pelos teus sentidos no meu linho
Rosa prateada de um negro lindo, perfeito
Sonho os teus seios como almofada
Sonho a minha cama o teu leito,
Entre tuas pernas nata pura fecundada,
Nos sentidos inundada onde me deito.
Rosa olhos perfeitos de veludo outonal,
Rosa folhas verdes cortantes sem igual,
Rosa ó rosa que amo e me és fatal,
Rosa no teu ventre fértil nascerão crianças,
Tuas sombras adoro mais que teu perfil,
Sonho o teu filho meu, ter tuas lembranças,
Tua poesia espelhada em sonhos mil,
No teu aroma doce que percorre distancias,
Emprenhado estou nesse teu ardil,
São apenas esperanças,
Estou deveras assustado,
Já não sei o que digo,
Estou enfeitiçado...
Terminem o poema, eu não consigo.


Assin: Artur Rebelo (2004-12-13)

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Menina Flor



Basta uma rosa dada, para mostrar o amor
Basta até uma pétala de rosa encarnada
Basta um abraço de desejo dado a uma fada,
Tocando ao de leve no dorso nu dessa flor.

Grito aos ventos tal pedúnculo de grande dor,
É o sentir o teu nome no meu dorido peito,
É lamentar a tua falta no vazio do meu leito,
É sonhar estrelas, é gritar teu nome meu amor,

Basta uma rosa linda, para um sorriso breve
Basta até uma pétala de rosa negra e leve
Basta um beijo de desejo dado sob a lua

Tocar muito breve na tua pele linda e crua,
É sentir que descobri a tal flor que queria,
Ser eu um dia a transformar flor em menina.


Assin: António Moreno

Sim é não, não é sim, enfim...

Às vezes num mundo esfarrapado,
As horas más são ouros e valimentos,
Às vezes no céu cinzento molhado,
É que nascem os verdadeiros momentos.

Não sei o que se passa, está tudo trocado,
Sei, é desgraça mas neste tempo disfarça.
Será que o amor é ódio? Ou é uma farsa?
Será que o ódio é amor? Já fico calado.

Com a preocupação que o sim é não,
Fico assustado, já não compreendo enfim,
Afinal o que se passa? Será inquietação?

Os meus amores diziam sim, logo no fim
Escolhiam outros que a mim e diziam não,
Tristeza esta, tal balança que do não é sim.


Assin: António Moreno

Jazza espetada em mim



Em meus olhos uma mágoa guardada,
Tua sensatez me fascinou o encanto,
A chibata chicoteia a alma embotada,
Jazza é flecha fincada mas no entanto
Está cravada num peito, tão espetada.

Jazza, lembro segredos de infância,
Em meus olhos chuva forte, o medo,
Desenho a tua expressão de criança
A vida perde a calma demasiado cedo,
Fincada no meu peito essa tua lança.

Uma seta disparada no meu peito,
Uma seta enfiada sem nada escrito,
Tolhe prazer no olhar que te deito,
No teu charco molhado, apenas digo,
Amo o teu ser, mais não consigo.

Jazza, cravada no meu peito está,
Esse brincar alegre duma menina,
Crescem sorrisos pelo meu corpo já,
Delineando e perdendo a calma digna,
Teu ser entrou em mim, ficou...
...permaneceu cá.


Assin: António Moreno

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Declamar o amor

Declamar o amor

Descobri o amor, sentinela lacrimosa
Posso ser o que quiser, por este fogo
Navegar por caravelas glamorosas,
Mostrar o desejo por ti agora ou logo,

Posso me transformar na cor da areia,
Ser mar em revolta, fingir que morro
Perseguir o teu cheiro, dizer que corro,
Posso te chamar linda, perfeita sereia.

Mil coisas posso declamar porque amo,
Verdade é ver espelhada em ti a lua cheia
Sonhar toda a noite, seres quem chamo

És a fêmea aranha que me mata na teia,
Gotas juntas descobrem nos olhos um lar
Declamando juntos a beleza do verbo amar.


Assin: António Moreno

terça-feira, dezembro 14, 2004

Espelhado



Sou laranja e travesso
Gomo de cheiro e veludo
Doce ao ser carnudo
Para apenas o teu desejo
Meu liquido talvez puro
Enredado no teu mundo,
Dás-me o que prevejo?

Assin: Artur Rebelo (2004-12-10)

Tempo...



Eu sou o de todos os momentos,
Tenho passado, tenho presente,
Mas sem futuro. Sou diferente,
Eu sou dos intrigantes tempos.

No início, era um ser inexplicável,
Adoravam-me era muito virtuoso,
Agora no presente, talvez indecifrável,
No futuro serei asqueroso e tortuoso,

De todas as partes de todas as eras,
Sou mau vento, sou o pó, desesperam
Amanhã, criatura pior que mil feras

Homens nasceram, homens morreram
Estrelas passaram, tiro sempre o alento
Eu permaneço sem futuro, sou o tempo.

Assin: António Moreno (2004-12-10)

Xadrez da Vida

Xadrez

Dor, lamento, solidão
Encarem como se o amor julgasse,

Terror, sofrimento, crivação
Aceitem o destino como se falasse,
Gritem, o mais alto e mais profundo
Gritem o desespero deste destino
Gritem, mas têm o deserto do mundo,
Ninguém vos escuta, eu não me defino.

Amor, momento, paixão
Fadados de perder à nascença
Gritem, a perca da inocência
Gritem o amor a todo o dia
Gritam, mas nada mais sentia
Sentia a falta da tua presença.

Calor, sentimento, coração
A alma é minha estou certo
O corpo é teu, Já nem sei,
A vida é minha e está um deserto
O coração é teu, nada mais direi.

Talvez, a única saída.
Seja jogar de uma vez,
Este Xadrez,
A perder ou a ganhar.
É uma pressa sentida,
No jogo de sorte ou azar.
É o Xadrez da vida.


Assin: Artur Rebelo

Derramar a semente...

Semente

Belisquei os sabores no chão dessa tua língua
Cintilantes os meus olhos, perante lábios carmim
Vesti o teu retrato, a implosão do meu ser por fim
Ansiosa a semente que em ti esperas que singra

Tua hora a dos lobos e da fecundação, a madrugada
Nas estrelas tais óvulos num céu negro do ventre
Acalmo o líquido seminal e olho o espaço ausente
Nossos abraços ecoam, tal como tacos numa calçada

Unindo os nossos corpos em explosão de semente
Gera o fruto no teu ventre, eu não te falho, sente
Derramado sémen, tão espalhado na tua imensidão

Após lascivo momento, uma pergunta de inquisição,
Escalando o suco por ti, te respondi desta feita
Amo-te acima de tudo, logo teu sorriso me enfeita...


Assin: António Moreno...

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Brisa do mar, a amante do vento do deserto



Ao primeiro brilho a amante da manhã
Lá longe ao nascer do sol, no horizonte,
Luta pela clara linha marítima de Satã
Neste mar imenso sob a minha fronte
São brumas em linha esta brisa salgada
Sorvidas pela paixão onde és tu a fonte
De corpo frio, doce uma tal carícia enevoada
Tu a brisa marítima, tão fria de trovoada
Nasce no frio oceano e morre no calor certo
Ai brisa fria, tu és uma fonte única e irada
Fonte de dor de mil homens braçais, bonecos
Brincas de fada com os navios de armada
Céu sujo imenso manto de barcos encobertos
Brisa corre para mim, os meus braços amados
Corre para mim, os braços do vento do deserto,
Sou um enorme deserto, tão quente de areia.
Não há terra, não há dor, não há mar, és fria
És uma brisa amante minha, do vento certo,
Por mim amada minha brisa de pneumonia,
Minha amante, amante deste meu deserto
Odeio-me por te amar, brisa incorrecta e vadia
Brisa vem ao meu deserto, vem ao meu mar.
Vem ter comigo, os teus cabelos de bruma
Vem enroscar-te nos meus imensos braços,
Tu brisa que nasces no oceano, és profunda
Vem acariciar-me no deserto criando traços,
De paixão densa, morna onde a dor se afunda,
Ao amar assim o teu regaço de imensos aços,
Sofro mais que antes, piedade pois sou tão vazio
Ai brisa fria, arrefece os meus ímpetos de dor,
Ai brisa fria, pó doce de boca ao sentir o teu frio
Ai brisa fria, arrefece em prazer o meu amor,
Sou um deserto tão carente...
A tal paixão não a queria...
Eu um vento tão quente
E amo esta mulher tão fria...

Assin: Artur Rebelo(Incluído na colectânea "Dores")
Dedicado à Rose...

Tua presença



Teus lábios lascas de corais,
Teus olhos espelhos de destino,
Tudo perfeito e penso em ti nua,
Apenas prevejo os sonhos reais,
Eu que sou como um menino
Deitado na tua cama limpa e crua

Fintando tuas ondas de fascínio
Apenas excesso dum amor passado
Sereno estou sob o teu domínio
Não te decifro, mas estou marcado
Amor encarniçado com lascivo caminho.
Amor lacrado em cio e do sol escondido
Tua alma um intenso esconderijo
Caverna desse mar enorme e perdido
Clamas de amor que te dirijo
Obscenamente do amor acendido
Porque abundas, porque me afundas.
Não temas o sonho, o sonho não finda,
Ao meu olhar molhado em ti estampado
És tu deusa tão linda...

Assin: Artur Rebelo (2004-09-12)

segunda-feira, dezembro 06, 2004

O Amor e o Ódio são amantes.



Numa laia da confusão,
Estava algo cruel,
Estava a fama da tentação
Algo que no fim sabe a fel.

Mas é algo de desilusão.
Nos sonhos de um lunático,
Cresceu o amor em armistício
Na ligação nasce um frio ártico,
Brota das entranhas todo um suplício.
Chuva absolutamente ácida da tentação,
Chove no teu leito e cria um desperdício,
Para sempre destruído numa encarnação,
Estou tão confuso e destruído.

Numa laia da confusão,
Estavas tu cruel,
Estava a dama do não
Algo que sabe a mel.

Mas é algo de desilusão,
Nos meus sonhos de fanático,
Aprendi a crescer a te venerar,
Domei o teu amor venenoso,
Aprendi a lidar por te amar,
Nas tuas verdades vêm mentiras,
Apesar do teu ser generoso.
Por mais que os meus calores firas,
Amo-te e nada é doloroso.

Nos versos de um romântico,
Está o sonho triste e o pranto
Afinal da alma é o cântico
Do teu imenso manto
Deste teu ritmo,
Deste meu grito...

À laia da tua pessoa um projecto,
Pois é o certo e o certo é triste,
Esta sensação que a alma me dá,
O medo do amar subsiste,
Sempre existe e nunca acabará.

Amor e Desilusão
Os dois sentimentos,
Vitória e derrota,
Ódio e paixão,
Cruel e generosa
De todos os momentos
Do coração...

Assin: Artur Rebelo


Ah... Se eu tivesse tal dom.



Ah... se eu tivesse tal dom
de mandar no leito do ser,
Ah... se eu tivesse o tal som,
Da melancolia do viver,
Seria algo doce, algo suave,
Eu era a água dum riacho a correr
Era o grito embargado duma ave
Era a pedra imóvel, sem se mover.
No meu peito se reabre
Numa pérfida certeza.
Quem não sonha nem nada sabe,
Mas tem o gosto da tristeza.
Esta alma estáva leiga,
Estava com uma falsa pureza,
Unindo o meu sémen à tua seiva...
Unindo-me à perfeita natureza.
Tudo disse, mas esqueci,
Que me unindo a ti,
O meu sonho era descoberto.
Quando vulcão sou imaginação,
Mas quando ódio sou incorrecto,
E ao ser pérfido eu sou o inverso
Daquilo que amavas,
O certo passou a incerto,
Do que me sonhavas...

No meu sémen nasce a flor,
No sangue crescem trepadeiras
Eu sou o culpado da tua dor
Tais lágrimas, são somente poeiras,
Olhos molhados, fui mau amor.
Perdi-me nos mil regaços,
E recusas o afecto e o calor,
dos meus braços...

Ah... se eu tivesse tal dom
Mexer no tempo na natureza
Ah... Se eu tivesse tal som
De te pedir perdão com clareza...


Assin: Artur Rebelo

Instantes...




Instantes perdidos por uma alma
Instantes vencidos por uma paixão
Instantes aliciados pela tua calma
São instantes de verdadeira ilusão.
Não existem nem na palma da mão...

Assin: António Moreno
Pintura é de Andrew Wyeth com o nome de "Master bedroom".

A estrada...

Estrada


A cada segundo da vida,
Há coisas boas e até coisas más,
Nesta estrada que percorremos a pé,
Num minuto se perde o que a vida faz.
Num segundo choramos e perdemos a fé.
Quando amamos de verdade já foi,
Quando odiamos ainda é.
Choramos pela estrada que dói...
Deixamos levar a vida ao sabor da maré.
Não aproveitamos a estrada,
Escolhemos atalhos, triste gosto...
Ou então seguimos a estrada errada,
Caem lágrimas pelo nosso rosto...
Mas ninguém nos diz que dói muito viver,
Ninguém mostra a estrada certa,
A estrada da vida, a estrada do saber,
Ninguém desenha a estrada correcta.

Depois perto do fim, ficamos sós
Percorremos o caminho esburacado
No fim da vida temos pena de nós,
Sabemos que o caminho era o errado.
Depois perto do eterno lar,
Sentamo-nos apenas para pedir
Um sitio onde descansar...

Com a vida a acabar,
Com a vida em elevada idade,
É que descobrimos que a estrada...
Mal percorrida a vida de infelicidade,
Depois o pouco amor termina em nada,
Piedade...

Assin: Artur Rebelo
(Incluído na colectânea “Dores”)

Espelho...



Enormemente só... tão só...
No meio do nada...
Essências de imagens,
Mas não pareço eu, estou errado...
Sonhos de prazer, mensagens...
Por cada esplendor teu és elevado,
Elevado no meu espírito és poder,
Espelhos, movimento das imagens
De te sentir no intimo do meu ver
Visões de tortura nas tuas margens
Espelhos meus mostrem o saber
Dêem-me o querer de te conhecer
Espelho de visões e imagens.
Imagem vem descobrir o que sinto,
Estando sob efeito do desnorte,
Estando afogado em absinto,
Estando perto de tudo o que é morte,
Sentindo-me meio extinto,
Apenas como o espelho, não sou forte,
Espelho és visão, mas estou tão só
Nada desata o que sinto, neste atado nó.
Sinto algo imenso, sinto um sabor,
Sabor a mel ou a fel não o sei dizer,
Por vezes vale a pena viver,
Espelho reflecte o que é brilhante
Espelho a tua imagem é perto do morrer
Tão duro, quebrado como o diamante,
No meio do meu sangue,
Que jorra golpadas em derrame,
Nas veias do meu semblante.
O espelhar a minha face na tua prata.
Espelho a imagem é promessa,
Mas tão afogada em mentira,
A tua imagem é submersa,
Provocas a minha ira.
Ira que está absolutamente perversa.
Espelho és falsa imagem do que sou,
Quebrei, parti, destruí o estanho
Nenhuma imagem mais se processou.
Odeio-me e sou um estranho,
Parti, destruí e tudo acabou.

Assin: Artur Rebelo
Imagem é uma foto com o nome "Espelho" de Tony Ward.

domingo, dezembro 05, 2004

Icebergue




Espero, simplesmente espero
Que uma sombra branca no mar,
Fria muito fria, muito vazia de vida,
Que nunca pára de chorar,
Me venha mostrar o seu horizonte,
Corpo amorfo um pequeno monte,
Submergido no mundo que lhe deu vida,
Iluminado de complexos e espantos,
Marcado com sulcos em ferida
Assemelha-se à falsa fertilidade,
É frio, muito frio, tão vazio de vida.
Propenso no mar do norte,
Suspenso nessa leviandade,
Frio tão frio do brilho da sorte,
No quente do sol e da idade,
Que provoca um calor de morte,
Calor é morte aos blocos de gelo
Mas o teu frio é tão forte.
Ligado a ti sou, és tão belo.
Um iceberg que é amostra irreal
Do seu ser da sua enorme grandeza,
Mergulhado no seu amante com sabor a sal.
És frio, tão lindo, tão cheio de beleza,
Tão branco, tão brilhante, tão puro,
Genuíno, navegante, desgastado e tão duro.
Afinal Icebergue és igual à minha amante,
Tão linda, tão pura, nada mais queria,
Mas no fim é tão fria, tão neve...
...a minha amante é como um icebergue.


Assin: Artur Rebelo

Em silêncio




Uma presença inexistente,
Um calor enevoado
Dum cinzento insistente,
Olhos fechados,
Mas com a luz premente,
Quarto vazio apagado,
De corpos ajuntados,
Com trejeitos de dor e prazer.
Olhos esgazeados,
Pelo teu sabor e por te aprender.
Terás aparecido?
A luz tende a aparecer,
Os olhos continuam fechados,
Quero saborear o teu ser,
Por mais mil Obrigados
O medo cresce e toma forma,
Saudade e desespero.
Conheci-te
Quero viver-te
Lamber-te
Mostrar-te
Quem sabe ter-te*,
Mas no fim apenas amar-te...

Com um beijo,
Com um abraço,
Com um sorriso,
Mas sem um compromisso a cumprir.
Temo isso!
Choro,
Tal choro silencioso chamado dor.
Sou insano, não fugiste,
Estás aqui...
És palpável,
És maleável,
És cortante que me fere o corpo e alma,
És errante e me amas com muita calma,
Que me enfraquece músculos e mente,
Que me dominas por mais que eu tente,
Que me cora todo o rosto,
Que me eleva deixa deposto,
Que me deixa com uma esperança premente.
És linda, és minha, és tão quente.
Por ti,
Fico sem fracassos,
Fico sem embaraços,
Apenas e só pelos teus traços,

És a esperança que me incentiva a viver,
És o espírito que me incentiva a respirar,
E aos teus olhos rever,
O teu pescoço cheirar,
O teu sexo ter,
Aos teus lábios beijar,

Antes, sem amantes,
Outrora sem mulheres,
Agora amo-te. O que queres?
Sem precedentes, sem amores passados,
Sem paixões fugidias do dia-a-dia.
Enquanto moribundo e fraco,
Jazia na cama desconfortável e fria
Agora no sentido mais lato
Sinto-me quente, é tudo o que queria,

Parei, pensei,
Quero-te,
Amo-te,
Tenho-te,
Esqueço-te,
Talvez por esta ordem, não o sei
Nuns minutos de paixão,
Após anos de felicidade,
Vêm os séculos de solidão,
Estamos presos sempre no tempo,
Mas estamos soltos no pensamento,
Evito neste momento, qualquer pensamento,
Pois fecho os olhos, solto a alma do ser,
O coração para de bater,
Sinto a respiração a parar,
Sinto a mente a esvanecer,
Sinto o corpo a gelar,
Sinto a esperança a cair,
Morri.
Pior que a morte,
É ficar sem ti.
Beijas-me a face e partes
Sem olhar mais para mim,
Lágrimas e um beijo,
Consolo de vida sofrida
Agora sem desejo,
No profundo de uma vida,
Encontrada nos teus braços.
Terminaram os embaraços,
Esta vida sem canseira.
Recordas-me, fotografia no móvel,
de amado na cabeceira,
Vertes lágrimas sem ninguém olhar,
Sorrisos parecidos com esgar,
Amor morto é como pássaro sem asas,
Existe mas não pode almejar voar.
Espero-te!
NUMA NOITE DE LUAR
Virei buscar-te,
E levar-te-ei para um lugar,
Tão lindo, propenso e denso,
Onde nem sonhas alcançar.
Aí ficaremos para sempre em silêncio.


Assin: Artur Rebelo
(Incluído na colecção de poemas "dores")

Olhos



Olhos claros, negros na escuridão...
Olhos atentos, olhos violentos,
Olhos de tristeza, olhos de pobreza,
Olhos olhando lá longe até mais não,
Perolas brilhantes centrados de onix
Quer de cascalho ou diamante,
Quer de falcão ou de Perdiz,
Olhos, sejam de infante ou de idoso,
Dentro de alguem triste ou feliz,
Olhos de doença, olhos de descrença,
Olhos são sempre um bem precioso
Olhos de dor ou de calor
Olhos diferentes ou de doença

Mas...
Há sempre uns olhos,
Os olhos mais sublimes
com intenso louvor
São olhos que exprimes
São olhos de Amor...

Assin: Artur Rebelo

“Descobri, uma rosa...”



Descobri uma rosa,
Uma rosa viçosa mas tão escura,
Uma rosa que apenas deseja florescer,
É somente uma rosa que busca a sua cura.
Por mim achada e encontrada,
Mas aos meus olhos a sinto a sofrer,
Mas assim, por mim é ainda mais amada...
Por ser rosa, por ser uma rosa de dor e sentimento,
Uma rosa suspensa em lamento.
Que está assustada e já chora cedo,
Tenho medo...

No roseiral crescem outras rosas,
E vivas estão,
Mas aquela rosa é a tal,
A rosa mais linda,
Menos espinhosa,
Mais viçosa,
No roseiral crescem outras rosas,
Lindas também são,
Mas aquela rosa é-me fatal,
Vencidos pelo temor do mais triste dos infortúnios. A dor.
Vencidos pela sorte da fortuna. O amor.
Amor feito de qualquer maneira,
Num momento do cheiro, no roseiral da paixão,
Amor feito pelos olhos em verdadeira adoração,
Aposto na amizade, e vou vencer,
Aposto no amor, mesmo que vá perder,
Mesmo que tenha de sofrer e de chorar,
Apenas te procuro no sonho do meu ser.
Dentro mim estás, dentro de mim irás sempre ficar.
Aposto no amor mesmo que vá perder.

Penso nos meus tempos de jovem,
Nunca senti nada assim,
Vale mais que mil amores descontrolados,
O tempo é engraçado...
Após tantos momentos,
Os nossos destinos ficam traçados,
São selados. E pergunto.
Estou assim apaixonado?
Neste roseiral estas rosas estão perdidas,
Tu és a minha rosa, vale mais que mil vidas...
Corto as outras e te deixo assim estendida. E viva...
Não és uma rosa escura, és apenas uma rosa corada e pura...

Assin: Artur Rebelo

Tempos...

Tristeza

Às vezes rio de mim próprio,
quando à distância,
me recordo de determinadas cenas
pelas quais passei.
Por vezes choro de mim próprio,
quando percebo que não faço o certo,
Mas serão fases que passarei.

Ainda não sei,
se tu e a tua beleza
é ou não o correcto,
ou apenas tristeza por continuar contigo.
Mas o tempo se encarrega de mudar tudo.
A vida é feita de altos e baixos,
Aposto que depois desta fase mudo.
e sei que vais concordar comigo.

Assin: Artur Rebelo

Onde te encontro...

Folha de Outono


Vi cair uma bonita folha
Foi o tempo que a fez
Esta chuva que a molha
É a fruta que cai no mês.

Esta loira folha está caduca
Pois cai do grande arbusto
A folha chora tenta e dá luta
Mas perdeu e saiu em custo

Tal perfeita folha caduca
Amarelecida pelo Outono
Cais e morres em disputa
Do tempo e do abandono.

Folha húmida da chuva
Desprende-se ao afecto
É por ser tempo da uva
É normal no mês correcto.

Não sei o porquê de olhar
Sei que no chão a vi cair
É algo belo, ela se prostrar
Cai lenta e triste por agir

Mirei o chão já me perdi
Eram as folhas aturdidas,
Eram tantas e entristeci,
Folhas do vento fugidas.

Culpa o bandido do vento
Pois matou esta bela manta
A folha chora num lamento
É tempo do mês que encanta

São tantas folhas molhadas
Na relva, na pedra, no chão
Dezembro mais lembradas
É o frio da branca Estação

Neste chão onde te encontro
Neste chão onde te apanho,
És a beleza deste assombro
Tristeza em enorme tamanho

Nestas folhas esquecidas
Estava a beleza dum Verão
Nos sonhos nascem feridas
Folha contida na minha mão.

Choro por esta folha caída
Agora és minha sou teu dono
Não és como a mulher fugida
Que me deixou ao abandono

Guardarei a folha num livro
Tal como a mulher que perdi
Pelo menos folha a ti sirvo,
Afinal por ti...
...algo de renascimento senti.

Assin: António Moreno
Imagem: Foto tirada por um amigo em Nov-2004

COLECÇÃO DE 10 SONETOS (VARIADAS DATAS)


1 - O beijo...



Tu que procuras os lírios do campo,
Não os encontrarás na cidade.
Buscas algo doce num imenso desencanto,
Buscas algo na insana ansiedade.

Tu que buscas as pedras da calçada,
Não as encontrarás no campo silvestre.
Buscas algo imenso, que agrada,
Algo que não compreendo, algo leve.

Tu que procuras a profundidade,
Seja no intenso campo ou na imensa cidade,
Seja na verdura ou numa rua escura,

Seja na cidade ou no campo da loucura,
Tem sabor de lírios, pedras e de saudade,
Os teus lábios nos meus saboreiam a verdade.



2 - Por quem...


Nasço quando tu me descobres,
Vivo quando me saboreias,
Morro quando me encobres
Vagueio sentindo as tuas veias,

Serenata dum ser, em corpo de prazer,
Corrois a invenção doce numa levada,
Tal clamor de dor sem mesmo o querer,
Perfeita, provada e tão amada.

Por trás duns olhos, vives, és bem feita,
Toque de umas mãos na seda escorreita
Onde a minha fronte nos teus seios se deita

Ó beleza, por quem coro,
Ó princesa, por quem fodo,
Ó mulher por quem morro.



3 - Vida tão...

A minha vida nada tem a temer,
Com sons que clamam por nascer,
Com luzes que tendem a aparecer,
Mas o fôlego tende a morrer.

Vida de êxtase busca sempre mais
Não inteiramente recompensada,
Pretende-se que seja muito amada,
Amada, amada dos amores reais.

Como se de um sonho se tratasse
Dentro de nave as vidas virtuais
Mas a vida dá voltas e renasce.

Para sempre o que interessa é viver,
Viver tão completamente e muito mais,
Mas quanto mais, mais significa sofrer.



4 - Memórias...

Estou surdo, o céu parei para escutar,
Estou cego, a brisa do mar passei a ver,
Perdi os sentidos de ti, sem nada saber,
Perdi o raio de luz que me poderia salvar

Somente as minhas memórias permanecem ficar
Mas nesta escuridão um grito se libertou
Nesta profunda imensidão algo me alimentou
Algo me corrói a alma e a minha visão do mar

Algo tão forte que em lágrimas se solta,
Provocas morte na carne, a luz me apagas,
Algo como a dor que causa estranha revolta.

Na escuridão me encontro, não te desejo,
Só as lembranças que tu dás, tais chagas
Mas ainda assim, és tudo o que tenho.



5 - Deserto de amor

Ao nascimento deixado para trás, amor
Na morte viva e agreste, um perdão
Na vida breve e encontrada, paixão,
És loucura afundada em terror.

Senhora quem és tu branda e pequena
Senhora quem és tu doce e vadia,
Porque é que sigo esta má via?
Senhora, tão linda, tão doce e morena.

Ódio de amor afundado num pavor,
Salpico-me do meu liquido vermelho,
Pela tua busca, salpico-me de dor.

Escolhes o deserto, és deserto sem mim
Tudo perdi, tudo esqueci, estou velho,
Olhos frios os teus, esse é o meu fim.



Apresento-vos o António Moreno...
Uma das poucas fotos do poeta que verão por aqui.





6 - Guerra, Amor e Paz...

De uma maneira natural é-se capaz,
Tudo real levado pelo espírito,
Sem se conceber ao êxtase e martírio,
São três estigmas: Guerra, Amor e Paz.

Estigmas da vida dogmas de dor,
Este é o nascimento do mundo,
Abraçados num marco profundo,
Como o sol que brilha até se pôr.

Três palavras, doces ou de vingança,
São três palavras que chamamos vida,
Três palavras e apenas uma Esperança.

Escrevo na folha branca com carvão,
Esta charada duma vida assumida,
Uma poesia, três palavras de ilusão.



7 - Guerra...

A guerra é sangue e dor,
Tantos ódios a incandescerem
Os perdedores a morrerem,
Chacinados em ódio e horror

Na noite se acalma o medo,
O frio da noite marca o corpo,
Na noite o ódio fica tropo
Mas volta o medo na manhã cedo.

Guerra palavra sem sentido,
Morrer apenas num segundo,
Sem viver, sem ter vivido.

Guerra tal medo de não viver,
O medo de não ver o mundo,
É solicitado o matar e morrer.



8 - Acordar da manhã.

Deitados, sentimentos sombrios,
Levantados, corpos frustrados,
Não inteiramente recompensados,
O porquê de ter sonhos vazios?

Porquê o amor dá sons agitados?
O acordar da manhã é como o amor
Para uns é bom, para outros é dor
Da vida abraçados e da morte amados,

Sombrias manhãs clareadas ao nascer
Deitados juntos, no entanto separados,
Olhos quentes carentes, ficam a morrer

O dia nasceu e falece a alegria vã,
Levantar da alvorada desencontrados,
Vida no romper do dia, assim é a manhã.



9 - Fuga...

Fugindo, correndo da má sorte.
Fugindo, vida batendo em açoite,
Fugindo, por dentro da noite,
Fugindo, com medo da tal morte,

Fugindo, gritos murmurando ajuda,
Fugindo, sem ti sem o teu amar,
Fugindo, do terror de te odiar,
Perder consciência na dor aguda.

Bailando no vazio da imaginação
Nos olhos negros que me refuta
Fujo de tudo e todos sem perdão

Fujo porque não quero odiar,
Fujo do mundo e de ti puta,
Fujo para não ter que matar.



10 - Amor sexual

Originadas por um silêncio mudo
Aliada na folia duma paixão desigual,
Desejo sensual numa armadilha fatal,
Dos corpos abundantes em conteúdo.

Prazer do sexo é alinhamento cruel,
Liberta o espírito e alivia a solidão.
Sacio do corpo é falsa alienação,
Tal como sexo feito em cama de dossel.

Dor física em prazer mental extenso
Começada num movimento do espasmo
Não há amor apenas sexo imenso.

Ambos lascivos mas com movimento,
Apenas interessa o intenso orgasmo,
Mas é amor sem vida nem sentimento.


Assin: António Moreno